2024-01-17
Prof. Dra. Cláudia Loureiro
@prof.dra.claudia_loureiro
Assistente Graduada, Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Professora Auxiliar Convidada, Faculty of Medicine of the University of Coimbra
Competência em Medicina do Sono
Pneumologista, Sonologista, Medicina estética e antienvelhecimento
“Beauty sleep”. Mito ou realidade? REALIDADE.
A melhor rotina de skincare terá necessariamente de incluir uma boa noite de sono. É uma peça fundamental no puzzle do envelhecimento… Não só no envelhecimento interno mas também no externo.
Esta afirmação tem sustentação científica nos vários estudos clínicos que têm sido realizados.
Uma das principais funções da pele é a de barreira aos fatores de stress externo como as toxinas ambientais e o dano induzido pela exposição solar. Por sua vez, o sono é vital para o crescimento e renovação do sistema imunitário e vários outros sistemas do nosso corpo. Num ensaio clínico recente que envolveu mulheres na idade pré-menopausa, as que se incluíam na categoria de má qualidade de sono mostraram ter objetivamente mais sinais de envelhecimento cutâneo, incluindo rugas finas, pigmentação e redução da elasticidade, com menor capacidade de recuperação após exposição solar intensa.
A pele, como a maioria dos outros sistemas, tem um ritmo circadiano associado à ritmicidade endógena. Uma série de genes circadianos influenciam diretamente a proliferação celular, a sua renovação e o envelhecimento. Essa renovação celular cutânea ocorre sobretudo durante a noite, quando também há maior secreção de melatonina, adenosina, cortisol e hormona de crescimento e que vão influenciar as propriedades anti-inflamatórias e regenerativas da pele.
Quando esse ritmo não é respeitado, a aparência facial é afetada, favorecendo edema palpebral, olheiras, olho vermelho, palidez cutânea e o aparecimento de rugas, para além de comprometer a recuperação da barreira cutânea após agressão externa.
A auto-perceção de atratividade também fica afetada, com repercussão até a nível social e relacional.
Num outro aspeto verificado no estudo supra mencionado, o grupo categorizado como tendo má qualidade de sono tinha maior índice de massa corporal.
De facto, o sono tem um papel fundamental também na regulação do nosso metabolismo, e a sua má qualidade tem como consequência o aumento de peso e maior probabilidade para doenças metabólicas como a diabetes e a obesidade. A privação de sono aumenta não só a vontade de comer mas, sobretudo, a vontade de comer “mal”, com predileção por alimentos como os açúcares, carbohidratos e snacks salgados. A fundamentação científica prende-se com a influência do sono na produção das hormonas que regulam o apetite, tendo como efeito net o aumento da fome. Por outro lado, com a falta de sono, a área do cérebro responsável por controlar os nossos impulsos mais primários (o córtex pré-frontal), fica menos ativo e por isso controlamos menos os nossos impulsos alimentares.
Finalmente, a falta de sono diminui significativamente os níveis de testosterona no homem e interfere negativamente com a regulação das hormonas femininas e sabemos a influência que essas hormonas têm a nível cutâneo.
As boas notícias são que as novas gerações, como os millenials (nascidos nos anos 80 e 90), têm mais tempo de sono/dia do que a Geração X (nascidos entre os anos 65 e 80) o que parece denotar a sensibilização para a importância do sono na nossa qualidade de vida e que se traduz, naturalmente, na nossa aparência física.